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Carta do Congresso de Agropecuária Inovadora da Região da Ameosc

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Nos dias 04 (quatro) e 05 (cinco) de julho de 2019 (dois mil e dezenove), no Auditório da Câmara de Vereadores do Município de São Miguel do Oeste, foi realizado o Congresso de Agropecuária Inovadora da Região da Ameosc. Esse evento foi resultado da iniciativa da Associação dos Municípios do Extremo Oeste de Santa Catarina, com apoio e participação das Gerências da Epagri e da Cidasc da Regional de São Miguel do Oeste, do Colegiado de técnicos e Secretários Municipais da Agricultura da Região da Ameosc, do IFSC Campus de São Miguel do Oeste, do Curso de Medicina Veterinária e Agronomia, da Unoesc do Campus de São Miguel do Oeste e do Curso de Agronomia da UCEFF de Itapiranga.

Entre os objetivos propostos no congresso está a reflexão da realidade do setor agropecuário com base em preceitos técnicos e científicos, com o envolvimento das instituições de ensino, produtores rurais, técnicos e demais profissionais ligados à agropecuária da região. As palestras buscaram apresentar inovações técnicas organizacionais para a gestão administrativa e financeira das propriedades rurais, as tendências conjunturais do setor no cenário nacional e internacional, a conservação do solo, a otimização da nutrição animal, formas eficientes e viáveis de armazenamento de cereais nas propriedades, os cuidados preventivos para obter a sanidade dos animais, incentivos a investimentos na produção de energias renováveis nas propriedades rurais e o reconhecimento dos produtos da agropecuária regional.

Participaram do Congresso 254 (duzentas e cinqüenta e quatro) pessoas, entre produtores rurais, técnicos em agropecuária, gestores públicos, estudantes, acadêmicos e demais dirigentes envolvidos com a atividade. O público se apropriou dos temas e debateu sete temáticas:

“Uso e conservação de solos para o desenvolvimento da região”; “produção orgânica e desenvolvimento rural”; “alimentação estratégica da vaca leiteira a base de pastagem”; “inovação na Sanidade animal” (brucelose e tuberculose); “os desafios da agricultura familiar frente as novas ordens alimentares”; “estratégias e processos de inovações na pecuária”; e “gestão de propriedade rural”.

Após as respectivas exposições se somaram casos de sucesso regionais ligados a tais temáticas. “Propriedade orgânica certificada”; “Produção e agroindustrialização de orgânicos certificados”; “Produção de leite a base de pasto”; “Propriedade certificada em sanidade animal”; “Inovação em silo secador de grãos”; “Produção de energia fotovoltaica” e “Controle contábil”.

As exposições dos palestrantes partiram da realidade regional, refletindo sobre as condições de clima e solo. Embora as condições de relevo e perfil restrinjam a aptidão de muitos solos ao cultivo de lavouras, 90% das áreas são aptas para pastagens. Isso contribuiu para o desenvolvimento do setor leiteiro, sendo os 19 municípios responsáveis por aproximadamente ¼ do leite catarinense, além das cadeias de suínos e aves. Uma das grandes mudanças atuais pela qual passam as unidades é a qualificação técnica e gerencial dos produtores, com casos já consolidados de aplicação da técnica orientada pelo retorno econômico e preservação dos recursos naturais.

A primeira exposição destacou as oscilações históricas sobre a prioridade direcionada à conservação dos solos. Atualmente, a problemática é expressa pelo recorrente cultivo de milho silagem e pastagens no mesmo local, a qual desestrutura os solos e compromete sua capacidade de infiltração e armazenamento de água. A redução dos teores de matéria orgânica contribui para a compactação, o que resulta em erosão e perda do potencial produtivo de um recurso escasso dado os tipos de solos da região. Tal cenário reitera a necessidade de novas técnicas de manejo orientadas para melhor conservação do solo, fundamentalmente pela implementação de técnicas expressivas de rotação de culturas e biodiversidade nas lavouras. A solução deve ser adaptada a cada propriedade, valorizando e adaptando-se a diversidade ambiental e enfatizando o respeito aos limites físicos de cada tipo de solo, relevo e condição da propriedade rural. Como regra, pode-se apontar a necessidade de conhecer a capacidade produtiva dos solos e adequar a quantidade de animais sob pastejo ao potencial produtivo do pasto.

A exaustão dos solos, a forte demanda por adubação química e agroquímicos lança questionamentos profundos sobre o modelo produtivo. Uma produção com mais conhecimento da natureza do solo e das condições ambientais pode ser alcançada com a introdução de novas técnicas, como a produção agroecológica apresentada na segunda exposição. Além de preservar o meio ambiente, ofertar produtos orgânicos pode se constituir em uma forma de diferenciação produtiva que contribua com a rentabilidade financeiras das atividades e uma alimentação mais saudável aos consumidores. Sua viabilidade no contexto regional foi evidenciada com a experiência prática dos produtores que apresentaram os casos de sucesso em produção orgânica. Os dois produtores enfatizaram a importância de uma orientação ecológica amparada na conservação e melhoria dos solos e da capacitação técnica para o sucesso das experiências regionais em cultivos vegetais e na criação animal.

A terceira palestra focou na importância de construir uma pirâmide técnica em que a nutrição da vaca de leite parta da base, a oferta de volumoso de boa qualidade. Dadas as características regionais, há um grande potencial por produzir pastagens de elevada qualidade, com um custo muito inferior à alimentação baseada em silagem. Os dados técnicos desmentem a crença de que a silagem é mais produtiva por área, além de demonstrar o maior custo por unidade, devendo ser encarada como uma fonte de reserva. No manejo nutricional, as variações anuais no tipo de oferta de volumoso exigem ajustes nutricionais na oferta de concentrado, com a possível aplicação de tecnologias complementares. Contudo, se a produção de pastagem estiver comprometida, qualquer tecnologia só ajudará a reduzir as perdas e não as evitar ou a gerar maior retorno. A isso se associa a necessidade de incorporar a sanidade animal em estratégias coletivas de gestão, com ênfase nas propostas de qualificação da produção – a exemplo da certificação de propriedade livre de brucelose e tuberculose, como evidenciado na quarta palestra.

Com representação predominante nas propriedades rurais, parte da agricultura familiar tem enfrentado dificuldades para viabilizar-se em algumas cadeias. Evidenciou-se mais uma vez na exposição do palestrante e nas considerações da plenária a necessidade de incorporar conhecimentos técnicos e a gestão das atividades vocacionadas da região, o que pode oferecer maiores possibilidades de estruturação para os agricultores familiares. Para além dos já conhecidos desafios e potencialidades de ganhos de escala na produção de leite, as organizações setoriais precisam analisar os potenciais de inovação focadas na valorização dos produtos tradicionais e mobilização das potencialidades locais/regionais.

Como foco na inovação, os organizadores a concebem como diferentes técnicas e formas de fazer melhor algo que já se fazia ou criar algo novo. Inovação expressa criatividade, otimização, sustentabilidade, dinamização, as quais são a base da agricultura do futuro. Isso não significa necessariamente compra de equipamentos modernos, mas sim que a gestão de todas as atividades deve mobilizar e conciliar o potencial natural com práticas orientadas pelo conhecimento.

A inovação pode se dar na busca por novas alternativas produtivas, como as experiências concretas apresentadas no Congresso. Os produtores expuseram relatos de armazenamento de grãos na propriedade garantindo a qualidade dos cereais e diminuição de custos de transporte e armazenagem. Na busca de alternativas energéticas, o caso de sucesso trouxe a inovação da produção de energia fotovoltaica, para a qual os investimentos em poucos anos retornam a propriedade, além de se tratar de uma energia limpa, contribuindo para a preservação do meio ambiente. Ser inovador pode se expressar na produção de algo de grande qualidade, que se diferencia nos mercados para atender consumidores que tem novos anseios, o que se pretende para a região.

É de entendimento do coletivo do Congresso que existe confiança dos produtores, instituições de ensino, técnicos e demais dirigentes no potencial econômico agropecuária de nossa região, seja pelo clima, solo e pessoas empreendedoras. A agropecuária responde diretamente por mais de 60% do movimento econômico em quase todos os municípios da região da Ameosc. Nessa proporção são gerados empregos e renda às famílias, arrecadação de impostos, o que contribui decisivamente no desenvolvimento dos nossos municípios e de nosso Estado. Pensar o desenvolvimento regional implica pensar o setor primário, o que reitera o papel do poder público em criar políticas públicas que contemplem os temas discutidos nesse evento.

Ao mesmo tempo que somos grandes produtores de alimentos básicos à alimentação humana, enfrentamos muitos obstáculos, seja na viabilização de nossas atividades agrícolas como na logística regional. Para maior eficiência e qualidade dos produtos, são fundamentais a criação de um laboratório regional de análises da qualidade e valor nutricional do leite e de um Laboratório de Bromatologia para análise da nutrição animal, em especial, de volumosos para subsidiar a gestão da dieta. O fortalecimento de políticas públicas de assistência técnica, controle sanitário (como subsídios para exames de brucelose e tuberculose) e de pesquisa agropecuária são indispensáveis para propiciar o desenvolvimento do setor.

A reivindicação do congresso é que se executem melhorias na logística, que passam por investimentos em infraestrutura, ampliando a capacidade competitiva regional, diminuindo custos de transporte e aumentando a segurança no trânsito. Reitera-se o caráter fundamental da manutenção, ampliação e novos investimentos nas Rodovias Estaduais e Federais, pois a precariedade atual está onerando os custos de produção e desestimulando novos investimentos.

É consenso dos participantes deste Congresso que este evento Regional deve ocorrer novamente nos próximos anos, proporcionando a disseminação de conhecimentos e pesquisas atualizadas, o debate e a troca de experiências, além de ampliar o horizonte de conhecimentos, também proporciona a motivação, organização e planejamento regional.

Da mesma forma, sugere-se que seja organizado um fórum permanente de debate e socialização, planejamento de atividades ligadas ao setor agropecuário, abrangendo as entidades e lideranças envolvidas no projeto. Também, que políticas públicas sejam discutidas nesta Região, com as lideranças da Ameosc, órgãos e poderes públicos estaduais e federal, para que possamos aperfeiçoar as experiências e práticas positivas, propor melhorarias e dar novos rumos a agropecuária regional. Essa deve ser orientada pela sustentabilidade, tanto econômica, como social e ambiental, promovendo o desenvolvimento e a qualidade de vida das pessoas que aqui vivem e produzem riquezas.

 

Camara de Vereadores de São Miguel do Oeste, dia 05 (cinco) de julho de 2019 (dois mil e dezenove).